quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

De um ardente e carregado vermelho.

"I''ll send an S.O.S. to the world
I 'll send an S.O.S. to the world
I hope that someone gets my
I hope that someone gets my
Message in a bottle
Message in a bottle"
Police - Message In A Bottle

O capitão naquela manhã observava o delicado vôo das gaivotas da proa de seu navio. Com um toco de lápis fazia anotações em seu caderno de navegação. Era um velho homem do mar, dos que deixavam um amor em cada porto, e seduziam tantas mulheres quanto eram seduzidos a sempre voltar para o mar.

Contudo aquele marinheiro escondido atrás de seu charmoso cachimbo, de feições embrutecidas, barba por fazer, e olhar mais azul que o oceano, escondia um segredo. As costas largas e viris daquele marujo carregavam um peso maior do que ele poderia suportar. Uma dor funda, quase marítima, como uma eterna ressaca, que a tudo engolia e mastigava como as águas que ás vezes se mostravam grosseiras e injustas e afundavam antigos e cansados barcos. Quando a noite se acomodou no teto de seu navio, o pobre capitão sentiu-se arvoar, as estrelas eram como lágrimas cristalizadas na escuridão do céu. A lua em sua majestade o mirava com algo parecido com dó. Quem o dera pudesse voar em um cavalo branco para sempre pelo céu, como fizera a lua, que outrora fora uma triste e bela dama de plúmbeos cabelos, que enlouquecera de amor.

O homem olhava a lua e agora entendia que o mar para ele também significava uma espécie de fuga, não poderia permanecer em terra firme por muito tempo sem Ana, sem saber da espera dela que flutuava sobre as ondas, nas margens do mar. Ana não o esperava mais. Ana e sua cesta de flores, as flores e os lábios de Ana, escandalosos nos entardeceres, de um ardente e carregado vermelho, seu vestido azul turquesa balançando ao vento como um brando sino, os beijos de Ana, cuidadosos e com gosto de maresia. E suas mãos frias, lânguidas, pequenas e nuas dentro das dele, ásperas e quentes. O perfume de seus cabelos, como uma canção úmida e miúda iluminando o oco de seu peito. Ana, sua flor recém colhida, ainda orvalhada, frágil e comovida, dentro de seus braços.

Foi nisso que o marinheiro pensava enquanto escrevia as seguintes palavras em uma carta que dentro de uma garrafa jogaria ao mar: De um ardente e carregado vermelho. Eu vou guardar o meu amor por você debaixo da pedra mais colorida do meu coração, muitos caminharão pela areia branca e deixarão suas marcas, pegadas e cicatrizes, mas o teu amor permanecerá imaculado e intocável, com a claridade do céu depois da tempestade. Como um navio preso nas ondas do mar, como um pássaro prisioneiro do azul do céu, como a flor rubra e solitária, ausente dos cuidados de uma borboleta branca. Minha amada Ana você sempre terá minhas mãos para segurar nas noites frias, minhas mãos bordadas de consolo. E eu terei para sempre o veludo dos teus lábios, que me aquecerão. E não morreremos de frio meu amor, porque nada seria mais triste do que morrermos de frio, aquele frio azulado, como um canário empoleirando-se e encontrando abrigo em uma árvore verde-limo de abandono.

Na garrafa que morria ao mar o marinheiro afogava suas derradeiras palavras. Depois das palavras foi seu próprio corpo exausto, daquele velho amante sem porto, sem paz e sem lugar no mundo, que foi recebido pelas águas profundas e frígidas. Ele pulou para o azul com se voasse pelo céu em seu cavalo branco, no exato instante em que uma estrela se despregava do céu e caía como uma lágrima no distante horizonte.

Kamila Ail da Costa.

"Todo o vermelho para Adriana".

Um comentário:

  1. É a música da praia. A música favorita de praia, pode perguntar pra Cris.
    Vermelho é pura ternura, esquenta o coração em dias frios.

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