"Querida, que tal baixar o televisor?
Deitado no divã com Woody Allen
Eu tive um sonho com aquele estranho, velho alien
Que era cabeça Bob Dylan, barba Ginsberg, Allen"
Jupiter Maçã - A Marchinha Psicótica Do Dr. Soup
Acordou, sentindo um cheiro e o brilho de erva-mate no cabelo, como se na noite anterior tivesse sonhado com ninfas em um bosque. No espelho do banheiro, mirava seu rosto amarrotado, como um mamão morto no asfalto.
No armário os remédios com os quais dava de comer a sua doença, faminta como o filhote de um pássaro.
Pensou por alguns instantes nos pássaros, desconfiava de seu canto, para ele uma dor feita de chumbo, que questionava suas asas, que lhes coagia no azul do céu. Ele também sentia o chumbo cristalizando suas asas.
Na cozinha percebeu pela primeira vez a presença inquietante do oco dos armários, e um pouco mais no fundo, melancólico, sabia que no mercado não encontraria sonhos enlatados, nem esperança congelada. Na pia da cozinha deixou o muco e as lágrimas encontrarem-se com o inox frio, como um feto no calor de sua mãe, do frio ao frio.
Nas chaves do carro, frias em sua mão, sentiu um líquido verde escorrer por debaixo da unha, quase sem se fazer notar.
No supermercado, as pessoas o olhavam por entre os corredores, e os olhos inquisidores faziam arder sua pele. Os olhos cada vez mais perto. E seus olhos sem conseguirem correr para longe, seus olhos atados nos outros olhos, cada vez mais perto. Urgentes.
Até que no lustro de uma prateleira, em meio à insistência, ele se viu.
Era um homem verde, de um verde musgo sincero, e suas raízes sangravam uma seiva, como o sêmen da lesma que faz brilhar o mundo. Não tinha o verde ingênuo de uma alface, mas sim o verde envelhecido e entediado do limo.
No momento que começava a sentir o sol ausente a latejar em suas folhas, percebeu que uma voz forte lacrimejava e gritava pelos corredores, cada vez mais perto, como outrora os alheios olhos. Goethe o abraçou erudito, as mãos que um dia embalaram Werther com sua tinta no papel, tremiam em seu pescoço. Goethe o olhava com a tristeza e a candura de um bebê cansado de chorar e com fome, e lhe confidenciou ao pé do ouvido, com a voz em um alemão embargado de lágrimas e suspiros: O capitalismo acabou.
Depois um gigante, que passava por ali em seu patinete, o avistou de fora da minúscula janela e o trouxe em suas redondas mãos até a boca. Com um fósforo, que riscou no meio fio, ele o acendeu e o fumou como um baseado suculento, e ele, sendo tragado em boca grande como o mar, sorriu ao sentir o orgasmo lírico de um vampiro.
Kamila Ail da Costa.
No armário os remédios com os quais dava de comer a sua doença, faminta como o filhote de um pássaro.
Pensou por alguns instantes nos pássaros, desconfiava de seu canto, para ele uma dor feita de chumbo, que questionava suas asas, que lhes coagia no azul do céu. Ele também sentia o chumbo cristalizando suas asas.
Na cozinha percebeu pela primeira vez a presença inquietante do oco dos armários, e um pouco mais no fundo, melancólico, sabia que no mercado não encontraria sonhos enlatados, nem esperança congelada. Na pia da cozinha deixou o muco e as lágrimas encontrarem-se com o inox frio, como um feto no calor de sua mãe, do frio ao frio.
Nas chaves do carro, frias em sua mão, sentiu um líquido verde escorrer por debaixo da unha, quase sem se fazer notar.
No supermercado, as pessoas o olhavam por entre os corredores, e os olhos inquisidores faziam arder sua pele. Os olhos cada vez mais perto. E seus olhos sem conseguirem correr para longe, seus olhos atados nos outros olhos, cada vez mais perto. Urgentes.
Até que no lustro de uma prateleira, em meio à insistência, ele se viu.
Era um homem verde, de um verde musgo sincero, e suas raízes sangravam uma seiva, como o sêmen da lesma que faz brilhar o mundo. Não tinha o verde ingênuo de uma alface, mas sim o verde envelhecido e entediado do limo.
No momento que começava a sentir o sol ausente a latejar em suas folhas, percebeu que uma voz forte lacrimejava e gritava pelos corredores, cada vez mais perto, como outrora os alheios olhos. Goethe o abraçou erudito, as mãos que um dia embalaram Werther com sua tinta no papel, tremiam em seu pescoço. Goethe o olhava com a tristeza e a candura de um bebê cansado de chorar e com fome, e lhe confidenciou ao pé do ouvido, com a voz em um alemão embargado de lágrimas e suspiros: O capitalismo acabou.
Depois um gigante, que passava por ali em seu patinete, o avistou de fora da minúscula janela e o trouxe em suas redondas mãos até a boca. Com um fósforo, que riscou no meio fio, ele o acendeu e o fumou como um baseado suculento, e ele, sendo tragado em boca grande como o mar, sorriu ao sentir o orgasmo lírico de um vampiro.
Kamila Ail da Costa.
Nota: eu não consumo lsd
ResponderExcluirpor mais que seja difícil acreditar ^^
a culpa é do Rafa =p
que fica sonhando com o Goethe ¬¬
*-*
manual de instruções:o cara vira uma planta, encontra o Goethe, e depois um gigante passa de patinete, pega ele pela janelinha do mercado, e o fuma.
ResponderExcluiré tri óbvio.
shsuahuhsauashu
Como as pessoas não vão perceber tudo isso? Todos os dias centenas de pessoas viram plantas, gigantes andam tão bem de patinete quanto os gnomos praticam atletismo.
ResponderExcluirSó mesmo eu pra não entender isso. :D
iasuaihsuhsuhs
surreal, mas bom. ;)
Feliz Aniversário Rafa *-*
ResponderExcluir\o/\o/
brigada por tudo coração!
adoro ser tua escrevidora de sonhos.
"Irene dizia que meus sonhos eram grandes sacudidelas que ás vezes faziam cair o cobertor." de Cortázar, in Casa Tomada.
;* beijos enormes e abraços intermináveis.
que todos os "anjinhos" te cuidem.
Querida, também sou verde, minhas unhas não melam, o verde se espalha debaixo de minha pele, cada dia uma veia nova. O médico me disse que não tem remédio para a morte. E que não tem cura para varises. Tenho evitado andar, como medida preventiva. Fico em casa, lendo, postando, carburando meus baseados, ouvindo Jupter Maçã...
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